Os contos de sérgio sant'anna parecem demonstrar que há uma narrativa latente em todas as coisas do mundo: no quadro de balthus e na entrevista do assassino psicopata, no concerto de joao gilberto que nao houve e na foto desbotada do rio dos anos 20, na aula de filosofia e na carta de amor, na conversa telefônica e no frango do goleiro
Até na página em branco há uma história que pede para ser escrita, nem que seja a crônica da impotência do escritor para escrevê-la.todos esses temas estao reunidos nesta antologia, e cada um deles traz uma maneira diferente de narrar, um vocabulário, uma dicçao, um ritmo e uma duraçao que lhe sao próprios
Mas apesar da variedade de temas e de formas, a prosa narrativa de sant'anna tem um estilo, uma assinatura, uma voz inconfundível: é sempre possível sentir o timbre cálido, entre o lírico e o irônico, do autor
A exemplo de muitos dos maiores escritores da modernidade, sérgio sant'anna rompe as fronteiras entre os gêneros, em especial entre o ensaio e a ficçao
No que diz respeito aos temas, por trás da sua grande variedade é fácil perceber nos relatos do autor algumas constantes: as perversoes sexuais no limite (ou além) do descontrole, a fronteira tênue entre a razao e a loucura, as relaçoes movediças entre amor e morte
Em certos momentos, o escritor tangencia o universo de nelson rodrigues, em outros o de dalton trevisan, em outros ainda o de rubem fonseca
Literatura que se expressa numa escrita maleável, que transita do coloquial ao protocolar, do científico ao confessional
Prosa cambiante, porosa, permeável às nuances da vida
"a aguda consciência da relaçao simbiótica entre forma e matéria é uma das qualidades que fazem de sérgio sant'anna um contista por excelência, um mestre da narrativa curta." - josé geraldo couto, na introduçao do livro